Seria um dia como qualquer outro não fosse aquela
carruagem na porta da minha casa. Um dia normal, em que o cansaço do
trabalho me faria pensar duas vezes antes de levantar do sofá para
atender a campainha. Mais um dia de batalhas, corrida contra o tempo
para entregar alguns relatórios, atrasos devido ao transito.
Mas a campainha tocou e eu, embora cansado, resolvi
atender.
Na porta, se apresentou um homem muito bem vestido, com
uma carta nas mãos. Mas o que me intrigou mesmo foi ver uma
carruagem parada em frente à garagem.
Pensei que talvez fosse uma pegadinha, uma peça sendo
pregada por algum amigo, mas o homem falou muito sério: “O Rei
pediu que lhe entregasse”.
“Rei?”, pensei eu, “Que rei?”, mas nada disse.
Comecei a ler a carta, ainda achando que se tratava de
alguma brincadeira.
“O Rei está aguardando que o senhor o convide para
entrar pois há muitas coisas que Ele pretende conversar com o
senhor. Coisas do seu interesse”.
Embora continuasse intrigado com esse negócio de “Rei”,
a seriedade do homem à porta e a majestosa carruagem estacionada em
frente de casa me levaram a considerar que aquilo não era uma
brincadeira. Imediatamente, pensei que talvez meus tributos
estivessem sendo cobrados. Afinal, eram tantas as minhas dívidas que
isso me trouxe o medo de sair dali preso, encarceirado.
Mas logo em seguida li uma curiosa afirmação na carta:
“O Rei informa que não veio para cobrar suas dívidas nem para
executar nenhuma pena nesse momento. Na verdade, se o senhor aceitar,
Ele já pagou tudo o que o senhor devia”.
Aquilo era realmente muito estranho. Ouvir que se eu
aceitasse minhas dívidas estavam pagas me deixou desconfiado. O que
esse tal “Rei” poderia desejar de mim?
Fiquei um tanto ressabiado, principalmente quando li o
que vinha a seguir: “Se o senhor consentir com a Sua entrada, o Rei
pretende sentar à mesa com o senhor para cearem”.
Mas que negócio era esse? Entrar em minha casa? Estava
tudo bagunçado, fora do lugar. Tinha esquecido de retirar o lixo e
limpar o quarto. Havia muita sujeira.
Como eu poderia sentar à mesa com um rei? Não havia
tomado banho ainda e nem tinha uma roupa chique para recepcioná-lo.
E o que eu ofereceria para um rei? A geladeira estava
vazia. Na realidade, o mês havia sido maior que o meu salário e não
havia quase nada para comer.
Mas a carta parecia ler os meus pensamentos, já que
continuava: “O Rei não se importa com a forma como o senhor está
vestido, tampouco com o estado de limpeza e conservação da própria
casa. Receba-O do jeito que está.”
“Na verdade, o próprio Rei quer lhe oferecer um
banquete, abastecer sua despensa, limpar a sua casa, lhe dar banho e
lhe vestir. Para isso, Ele lhe trouxe roupas de linho puro”.
O convite era estranho, inusual. Nada parecia fazer
sentido. Como assim, um rei me lavando, limpando a minha casa e me
preparando um banquete para cearmos juntos? Um rei deve ser servido,
não servir... principalmente alguém como eu.
Mas ao mesmo tempo ter toda essa experiência era algo
tentador. Por que não?
Resolvi aceitar e então vi o Rei, com toda sua
majestade e poder, entrando na minha humilde e indigna casa. Com
vergonha e timidez, mas com uma vontade que aumentava cada vez mais
de estar na companhia de alguém que até então residia somente na
distância da minha imaginação.
O Rei entrou.
Com paciência e sensibilidade ímpar, o Rei me despiu.
Percebeu algumas feridas ainda não cicatrizadas e as limpou,
aliviando minhas dores. Lavou-me, retirando sujeira que há décadas
estava impregnada em meu corpo. Depois, me vestiu com uma roupa
limpa, digna de alguém que poderia estar na Sua presença. Me calçou
e colocou um anel no meu dedo.
Quanto à casa, os móveis foram arrastados para que
todo o lixo pudesse ser recolhido. Os chãos foram lavados e
encerados. As coisas foram recolocadas no lugar. A lâmpada, que
estava queimada, reacendeu.
A despensa e a geladeira foram reabastecidas. E havia
tanto alimento, que eu era capaz de distribuir a todos os meus
vizinhos sem que me faltasse nada em tempo algum.
Então, ceamos.
À mesa, Ele sorriu de forma doce e eu senti paz... uma
paz que há muito tempo não sentia. Começou a falar sobre mim e
sobre planos, muitos planos.
Narrou minha vida em detalhes, mas sem acusações. Seu
olhar era misericordioso e Sua mão estava estendida, permitindo que
eu visse algumas marcas profundas, as quais, sabia eu, tinham sido
adquiridas por minha causa. Mas Ele não me denunciou.
Por fim, me deu uma outra carta e eu nem precisei abrir
para saber do que se tratava. Meu coração dizia que era a minha
alforria, a minha libertação. E de fato nela estava escrito: VOCÊ
ESTÁ LIVRE!
Pode parecer loucura. Pode parecer imaginação fértil,
um sonho. Mas era verdade. Talvez não com todo esse cenário. Talvez
não nessa exata sequência. Mas foi tudo verdade.
Ao final do dia de hoje, preste atenção. Quem sabe
seus pensamentos e suas preocupações não estejam te impedindo de
ouvir o barulho da campainha, de escutar alguém batendo à porta.
Quem sabe há muito tempo o Rei não está aguardando:
“Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a
minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e
ele comigo.
Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no
meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu
trono.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
igrejas.” (Apocalipse 3:20-22)
Dr. Marcelo.
ResponderExcluirJá faz muito tempo que não nos vemos, quase 10 anos. Contudo guardei muito apreço pela sua pessoa e pelo exemplo de conduta como magistrado. Agora, muito me alegra em ter o privilégio de chama-lo de irmão em Cristo.
Conheci este Blog por acaso, através de um colega seu e nosso irmão Dr. Francisco Milton e, somente hoje, identifiquei este lindo espaço de mensagens como sendo de vossa pessoa.
Que o Santo Espírito de Deus continue a iluminar seu coração, lhe concedendo a unção para trazer sempre a luz da verdade do Evangelho a todos que necessitam.
Que Deus em Cristo lhe abençoe sempre e lhe conceda Vitória, Paz e Alegria no Senhor.
Ass. Elielton Alencar - Macapá/AP
Secretário de Audiências :-)
Saudades, Elielton. Que você também seja inundado cada vez mais pela paz de Deus e que Ele derrame sobre sua vida toda sorte de bênçãos.
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