Marcelo
Luís de Souza Ferreira
Vamos observar.
Cada um de nós nasce com algumas características que nos são
próprias, inconfundíveis e nos diferem de qualquer outro ser
humano. Muito além das peculiaridades físicas, cada um traz dentro
de si características que o tornam único e que o diferenciarão dos
outros ao longo da vida. Cada pessoa nasce com determinados dons,
talentos, assim como com um ponto de vista único e uma forma única
de se relacionar com os acontecimentos da vida. É o início da
personalidade individual.
Mas esse é só um início, não é verdade? Serão as circunstâncias
da vida que vão desenvolvendo essa personalidade ao longo dos anos.
Os dons inatos poderão ser desenvolvidos ou não dependendo do
incentivo que a pessoa recebe ou não no ambiente em que vive e as
características de cada ser vão sendo forjadas diante das situações
que a pessoa passa ao longo da vida.
Assim, a criança que trazia em si a facilidade de se expressar e se
relacionar com outras pessoas pode se tornar um adulto introvertido,
tímido e antissocial dependendo do relacionamento que desenvolveu
com os seus pais, irmãos, primos e amigos.
Uma pessoa animada e cheia de vida pode se tornar pessimista e
infeliz em função de um relacionamento amoroso frustrado.
Alguém pode se fechar para novas amizades em decorrência da
decepção com antigos amigos.
E uma pessoa otimista e solidária acaba se tornando egoísta e
desconfiada por ter sido prejudicada de alguma forma por alguém em
quem confiava.
O ambiente em que vivemos e as relações pessoais que desenvolvemos
vão preenchendo aquele espaço interno inicial, formando nossa
personalidade atual. Dessa forma, somos o que somos hoje em função
de tudo o que vivemos até aqui, de todas as experiências,
positivas e negativas, que a vida nos deu.
Assim somos eu e você, e não conseguimos nos ver de outra forma, já
que a nossa visão se restringe às experiências que já tivemos. É
natural, portanto, não admitirmos a possibilidade de mudar quando
olhamos para dentro de nós, o que nos leva a buscar que as outras
coisas e pessoas se adaptem ao nosso jeito de ser.
Buscamos amigos que tenham os mesmos gostos, a mesma linha de
pensamento, a mesma visão de mundo e o mesmo nível social.
Frequentamos lugares que se adequem àquilo que nos tornamos ao longo
do tempo. Geramos expectativas em nossos relacionamentos pessoais com
base naquilo que somos e no que já vivemos, desejando sempre que o
outro se adeque ao nosso jeito de ser. E, por fim, quando pensamos em
Deus buscamos um ser que nos compreenda, atenda à nossa necessidade
e não interfira naquilo que já somos, motivo pelo qual mudamos
tanto de religião, buscamos tantas igrejas e pesquisamos tantas
seitas... estamos atrás de um Deus que nos sirva, da maneira como
somos.
Em suma, somos o que somos hoje e certamente muitos dirão que não
há mais como mudar nosso jeito de ser.
De fato, se olharmos para nossas próprias forças e o modo como
simplesmente reagimos às circunstâncias da vida, somos forçados a
crer que não temos condições de mudar nossa personalidade, de
deixar de agir como agimos, de alterar nossos pensamentos e de
modificar nossa conduta. Por nossos próprios esforços, realmente
não somos capazes de implementar mudanças substanciais em nossas
vidas.
Daí a dificuldade tremenda em ampliar nossos círculos de amizade,
modificar nossos hábitos alimentares tão maléficos, encontrar mais
tempo para as coisas que sabemos importantes e necessárias para as
nossas vidas, deixar de comprar coisas desnecessárias, fazer aquele
regime que a nossa saúde tanto pede, deixar de se endividar...
Afinal, somos o que somos e não mudaremos mais, não é?
Não. Não é isso o que Deus nos propõe. Muito pelo contrário. A
proposta de Deus para nossas vidas é justamente deixarmos de ser o
que somos hoje, depois de tantos anos de experiências negativas, e
passarmos a ser aquilo que deveríamos ser, aquilo para o que Ele nos
destinou desde o princípio e que as situações da vida nos
impediram de perceber.
Essa é a proposta que Deus nos faz quando, após anos e anos de
sofrimento e instabilidade, nos encontramos com Ele e reconhecemos a
nossa fraqueza e a impossibilidade de controlarmos nossas próprias
vidas.
A Bíblia é repleta de relatos que demonstram que no encontro com
Deus sempre nos é proposta uma mudança radical, para
a qual precisamos estar no mínimo dispostos, pois do contrário a
caminhada com Ele não será possível.
Deus não se adapta a nós! Nós é que devemos nos adaptar ao
projeto Dele para nossas vidas e isso implica deixar de ser o que
somos.
Um primeiro exemplo é visto na relação de Deus com Abraão. O
encontro entre ambos se inicia com uma ordem de Deus: “Sai da
tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra
que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei o
nome. Sê tu uma bênção!” (Gn 12. 1-2).
Já Moisés, aos 80 anos de idade, foragido do Egito e apascentador
de ovelhas, também recebeu uma ordem de mudança quando encontrou
Deus: “Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o
meu povo, os filhos de Israel, do Egito” (Ex 3. 10).
E o que dizer de Gideão? Oprimido e acuado, com medo dos midianitas,
o Anjo do Senhor lhe apareceu dizendo “O SENHOR é contigo,
homem valente” (Ju 6. 11) e a partir de então Gideão foi
levantado por Deus como líder do povo de Israel para a sua
libertação.
Desses três personagens bíblicos podemos extrair valiosas lições
para as nossas vidas.
A primeira é a de que Deus tem um plano para cada um. Esse
plano é grandioso e nossos olhos humanos não conseguem enxergar
além das nossas atuais fraquezas para vislumbrá-lo.
A segunda é a de que Deus é soberano. Seu plano se cumprirá
independente da nossa vontade. Ou seja, devemos aceitar que Deus não
se adaptará a nós, mas nós é que devemos nos adaptar a Ele.
A terceira lição é a de que Deus não nos vê como nós nos
vemos. Ele enxerga muito além das nossas fraquezas e
deficiências.
Abrão jamais imaginaria que Dele surgiria uma grande nação.
Moisés, humilhado no deserto depois de ter vivido como príncipe no
Egito, também não conseguiria se ver como aquele que libertaria o
povo de Deus da escravidão no Egito e o conduziria, num
relacionamento de extrema proximidade com o Senhor, até a terra
preparada por Deus para uma vida próspera ao Seu povo.
E Gideão, que malhava o trigo escondido, com medo de ser tomado
pelos midianitas, jamais imaginaria que com um exército de apenas
trezentos homens despreparados para a guerra venceria o povo
opressor.
Mas Deus sabia. Deus via Abraão como o patriarca da nação
escolhida. Deus enxergava Moisés como o líder que o povo precisava.
Deus tinha Gideão como corajoso e humilde o suficiente para que
através dele se fizesse a libertação do povo hebreu.
A quarta lição, e talvez mais importante, é a de que a mudança
necessária não será feita por cada um de nós, mas pelo próprio
Deus. É Ele que vai nos libertar daquilo que nos escraviza,
daquilo que nos impede de ir adiante e de sermos felizes e
realizados. É Ele quem vai dar o sentido às nossas vidas e nos
capacitar para que sejamos aquilo para o que fomos destinados.
Portanto, para a nossa mudança a única coisa que devemos fazer é
abrir o espaço para a ação de Deus.
Ao cristão, essa mudança é necessária e inevitável.
Cristo, em sua passagem pelo mundo, fez questão de destacar que “Em
verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não
pode ver o reino de Deus” e que “quem não nascer da água
e do Espírito Santo não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3.
3-5). Aos seus próprios discípulos, Jesus afirmou que haveria a
necessidade de conversão, ou seja, do novo nascimento (Lc 22.
31-32), e somente quando renascidos no Espírito Santo (At 2) seus
apóstolos tiveram condições de espalhar o evangelho pelo mundo,
com destemor e poder jamais imaginados.
Foi o segundo nascimento que transformou Zaqueu e lhe deu salvação
(Lc 19), que modificou toda a trajetória de vida do apóstolo Paulo
(At 9) e o tornou um dos maiores evangelistas de todo o tempo, que
trouxe visão ao cego de Jericó (Mc 10. 46-52).
Também Jesus esclareceu que “ninguém põe vinho novo em odres
velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o
vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos” (Mc
2. 22), deixando claro que sem mudança e sem novo nascimento, agora
pelo Espírito Santo, não haveria salvação.
É certo que nem todos os que ouviram essa lição a aceitaram. A
própria Bíblia nos leva a crer que tanto Nicodemos, a quem Jesus
informou a necessidade do nascer de novo, quanto o jovem rico que o
procurou para saber como entrar no reino dos céus não teriam aceito
esse ensinamento, ao mesmo tempo em que nos explica que o novo
nascimento é impossível ao homem, por suas próprias forças, sendo
obra exclusiva da vontade soberana de Deus.
Deus pode mudar as nossas vidas. Deus pode nos fazer melhores do que
somos hoje. Deus pode nos trazer a paz que tanto buscamos. Basta
aceitar Jesus.
E Aceitar Jesus significa admitir-se pecador, falho e fraco.
Significa aceitar a necessidade de uma mudança drástica e
substancial em sua própria vida. Significa desejar que Deus abale as
suas estruturas, refaça o seu ser, crie para você uma nova
personalidade e o conduza para o projeto que Ele preparou
exclusivamente para você.
Se esse desejo já despontou em seu coração, ore incessantemente
para que Deus, em sua misericórdia, transforme o seu ser e o faça
renascer da maneira que convier ao Pai. Se não, ore também,
incessantemente, para que Deus tenha a piedade e o amor de
revelar-lhe essa necessidade.
Ore...e observe Deus realizando em você mais um milagre de vida!