Escrevi
há alguns dias sobre a responsabilidade de tirar o lixo de dentro de
casa e de como eu entendi a importância dessa tarefa na vida da
minha família através da ação de Deus.
Não
falei, no entanto, da dificuldade de tirar um tipo de lixo em
especial: o lixo que há dentro de si mesmo. E desde então tenho
refletido sobre isso.
Esse
tipo de lixo é certamente o mais difícil de ser retirado, mesmo
porque na maioria das vezes ele fica muito bem escondido, dando uma
falsa aparência de limpeza.
Sabe
aquele tipo de tralha que a gente guarda na despensa por anos e anos,
mas já tem tanta coisa que foi colocada por cima que dá desânimo
só de pensar em remover tudo para jogar aquilo fora? Pois é
exatamente assim que esse tipo de lixo permanece dentro de nós por
anos a fio: vamos colocando tanta coisa em cima, que se formos mexer
para fazer a limpeza e jogar aquele lixo fora teremos muito trabalho,
o que nos leva a continuar convivendo com ele.
O
interessante é como esse lixo se forma.
Nas
nossas relações com outras pessoas, por mais simples que sejam,
sempre haverá alguma troca. Damos algo de nós para elas e recebemos
algo delas para as nossas vidas.
Pode
ser apenas uma impressão ou uma vaga sensação em caso de contatos
mais superficiais. Pode ser a sensação de um momento de intensa
alegria. Mas pode ser algo que gere dor, desconforto. O fato é que
sempre que o que restar de uma relação for algo que nos cause
sofrimento, nos impeça de caminhar adiante, nos gere desconforto e
nos faça evitar situações similares isso pode caracterizar algum
tipo de lixo.
O
problema é que esse lixo ocupa o espaço de coisas que poderiam ser
úteis. O lixo pode contaminar todo um ambiente. O lixo pode gerar
doenças... e essas doenças podem nos incapacitar e até nos matar.
O lixo pode fechar as portas da nossa alma e impedir qualquer forma
de acesso à nossa casa.
Um
trauma de infância. Uma relação mal resolvida com os pais. Um
relacionamento amoroso desgastante. Uma decepção com um grande
amigo. Uma traição... quanta coisa pode nos fazer parar de andar e
nos impedir de alcançar algo melhor para nós mesmos. Quanto lixo
não deixamos armazenado em nossos corações!
A
complicação é que esse tipo de lixo tem o poder de nos fazer
prisioneiros de um passado que jamais poderá ser revivido e,
portanto, não pode ser modificado.
Portanto,
limpar o coração, remover esse lixo e jogar fora toda raiz de
amargura é algo que precisa ser feito com urgência. Sem isso,
respirar se torna um fardo.
O
problema é antigo. Na Bíblia, o autor da carta aos hebreus já
advertia “tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de
Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e
por ela muitos se contaminem” (Hebreus 12:15), revelando que
esse tipo de lixo pode sim contaminar todas as pessoas que estão ao
nosso redor e destruir nossas relações presentes e futuras.
Também
Paulo, quando escreve aos efésios, os exorta: “Toda a amargura,
e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam
tiradas dentre vós” (Efésios 4:31).
Como
se observa, Deus, em seu infinito amor, se preocupa com isso, pois
não quer que vivamos presos ao passado, deixando de usufruir o
presente que Ele nos dá e o futuro que Ele nos promete. Se preocupa
tanto que Jesus, o Deus-Filho, nos convida a entregar a Ele as nossas
amarguras: “Venham a mim, todos os que estão cansados e
sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu
jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e
vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é
suave e o meu fardo é leve". (Mateus 11:28-30).
Mas
voltemos à questão inicial: como remover esse lixo? Como levá-lo
para fora? Como obter tamanha libertação?
Deus
não nos deixa sem resposta. Sua Palavra, viva e eficaz, nos dá a
receita exata de como nos livrar desse tipo de lixo. E a receita é
uma só: perdoar.
Por
isso Jesus ensinou: "Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se
ele se arrepender, perdoe-lhe. Se pecar contra você sete vezes no
dia, e sete vezes voltar a você e disser: ‘Estou arrependido’,
perdoe-lhe" (Lucas 17:3-4).
Por
esse motivo, Jesus, quando perguntado por Pedro sobre quantas vezes
deveria perdoar o pecado reiterado de um irmão, lhe respondeu que
não apenas sete, mas setenta vezes sete se fosse preciso (Mateus 18:
22).
Por
essa razão, Jesus fez questão de lembrar o exercício do perdão
como princípio de justiça divina quando nos ensinou a orar, dizendo
“Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos
devedores” (Mateus 6:12).
E
para mostrar como o exercício do perdão era algo importante nas
nossas vidas, o próprio Jesus, durante a humilhação do calvário,
nos deu o exemplo, orando: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o
que estão fazendo” (Lucas 23:34)
Perdoar
não é algo fácil! Eu que o diga, pois sei bem o quanto tenho
lutado comigo mesmo para liberar perdão a fim de que eu também
possa ser perdoado pelos erros que cometi contra Deus e contra os
meus próximos.
Mas
perdoar é necessário e tudo começa com a simples vontade de
perdoar. Tudo começa com a decisão de se libertar do fardo da
amargura e de não mais querer ser conduzido pelas ofensas ocorridas
no passado.
Você
quer realmente levar esse tipo de lixo para fora? Então queira
também oferecer perdão em seu coração àqueles que de alguma
forma te causaram dor, sofrimento ou decepção.
Apenas
queira e peça a Deus. O resto será obra exclusiva do Espírito
Santo.