domingo, 6 de abril de 2014

LEVANDO O LIXO PARA FORA - II



Escrevi há alguns dias sobre a responsabilidade de tirar o lixo de dentro de casa e de como eu entendi a importância dessa tarefa na vida da minha família através da ação de Deus.
Não falei, no entanto, da dificuldade de tirar um tipo de lixo em especial: o lixo que há dentro de si mesmo. E desde então tenho refletido sobre isso.
Esse tipo de lixo é certamente o mais difícil de ser retirado, mesmo porque na maioria das vezes ele fica muito bem escondido, dando uma falsa aparência de limpeza.
Sabe aquele tipo de tralha que a gente guarda na despensa por anos e anos, mas já tem tanta coisa que foi colocada por cima que dá desânimo só de pensar em remover tudo para jogar aquilo fora? Pois é exatamente assim que esse tipo de lixo permanece dentro de nós por anos a fio: vamos colocando tanta coisa em cima, que se formos mexer para fazer a limpeza e jogar aquele lixo fora teremos muito trabalho, o que nos leva a continuar convivendo com ele.
O interessante é como esse lixo se forma.
Nas nossas relações com outras pessoas, por mais simples que sejam, sempre haverá alguma troca. Damos algo de nós para elas e recebemos algo delas para as nossas vidas.
Pode ser apenas uma impressão ou uma vaga sensação em caso de contatos mais superficiais. Pode ser a sensação de um momento de intensa alegria. Mas pode ser algo que gere dor, desconforto. O fato é que sempre que o que restar de uma relação for algo que nos cause sofrimento, nos impeça de caminhar adiante, nos gere desconforto e nos faça evitar situações similares isso pode caracterizar algum tipo de lixo.
O problema é que esse lixo ocupa o espaço de coisas que poderiam ser úteis. O lixo pode contaminar todo um ambiente. O lixo pode gerar doenças... e essas doenças podem nos incapacitar e até nos matar. O lixo pode fechar as portas da nossa alma e impedir qualquer forma de acesso à nossa casa.
Um trauma de infância. Uma relação mal resolvida com os pais. Um relacionamento amoroso desgastante. Uma decepção com um grande amigo. Uma traição... quanta coisa pode nos fazer parar de andar e nos impedir de alcançar algo melhor para nós mesmos. Quanto lixo não deixamos armazenado em nossos corações!
A complicação é que esse tipo de lixo tem o poder de nos fazer prisioneiros de um passado que jamais poderá ser revivido e, portanto, não pode ser modificado.
Portanto, limpar o coração, remover esse lixo e jogar fora toda raiz de amargura é algo que precisa ser feito com urgência. Sem isso, respirar se torna um fardo.
O problema é antigo. Na Bíblia, o autor da carta aos hebreus já advertia “tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem” (Hebreus 12:15), revelando que esse tipo de lixo pode sim contaminar todas as pessoas que estão ao nosso redor e destruir nossas relações presentes e futuras.
Também Paulo, quando escreve aos efésios, os exorta: “Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas dentre vós” (Efésios 4:31).
Como se observa, Deus, em seu infinito amor, se preocupa com isso, pois não quer que vivamos presos ao passado, deixando de usufruir o presente que Ele nos dá e o futuro que Ele nos promete. Se preocupa tanto que Jesus, o Deus-Filho, nos convida a entregar a Ele as nossas amarguras: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve". (Mateus 11:28-30).
Mas voltemos à questão inicial: como remover esse lixo? Como levá-lo para fora? Como obter tamanha libertação?
Deus não nos deixa sem resposta. Sua Palavra, viva e eficaz, nos dá a receita exata de como nos livrar desse tipo de lixo. E a receita é uma só: perdoar.
Por isso Jesus ensinou: "Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: ‘Estou arrependido’, perdoe-lhe" (Lucas 17:3-4).
Por esse motivo, Jesus, quando perguntado por Pedro sobre quantas vezes deveria perdoar o pecado reiterado de um irmão, lhe respondeu que não apenas sete, mas setenta vezes sete se fosse preciso (Mateus 18: 22).
Por essa razão, Jesus fez questão de lembrar o exercício do perdão como princípio de justiça divina quando nos ensinou a orar, dizendo “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mateus 6:12).
E para mostrar como o exercício do perdão era algo importante nas nossas vidas, o próprio Jesus, durante a humilhação do calvário, nos deu o exemplo, orando: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” (Lucas 23:34)
Perdoar não é algo fácil! Eu que o diga, pois sei bem o quanto tenho lutado comigo mesmo para liberar perdão a fim de que eu também possa ser perdoado pelos erros que cometi contra Deus e contra os meus próximos.
Mas perdoar é necessário e tudo começa com a simples vontade de perdoar. Tudo começa com a decisão de se libertar do fardo da amargura e de não mais querer ser conduzido pelas ofensas ocorridas no passado.
Você quer realmente levar esse tipo de lixo para fora? Então queira também oferecer perdão em seu coração àqueles que de alguma forma te causaram dor, sofrimento ou decepção.

Apenas queira e peça a Deus. O resto será obra exclusiva do Espírito Santo.