segunda-feira, 30 de junho de 2014

DA RELIGIÃO QUE APRISIONA AO CRISTO QUE LIBERTA.

DA RELIGIÃO QUE APRISIONA AO CRISTO QUE LIBERTA.
Uma longa, difícil e inevitável jornada.


O Verbo de Deus se fez homem e desceu para habitar no mundo que Ele mesmo criou. A um mundo envolto nas densas névoas da maldade, em que cegos conduziam cegos rumo ao abismo, quis Ele vir para ser luz e dar vida àqueles que nEle verdadeiramente cressem.
Uma história de amor puro, algo incompreensível para as nossas mentes limitadas e nossos corações duros. A última tentativa de mostrar aquilo que desde a criação era evidente: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (João 1:3-4).
Ali estava todo o mistério da criação, estavam todas as respostas que a humanidade sempre buscou. Ali estava a paz que a nossa alma tanto procura. Ali estava Deus!
Mas poucos entenderam. Poucos compreenderam a magnitude daquele evento. Poucos aproveitaram essa única e derradeira oportunidade.
Estavam mais ocupados com normas e rituais, cujo significado há muito tinham esquecido. Estavam mais ocupados com suas próprias distinções sociais e com sua estrutura de mundo. Estavam mais preocupados com o que comiam e com quantas vezes lavavam as mãos.
Guardavam dias sem entender a razão. Faziam festas sem convidar o homenageado. Louvavam a Deus com os lábios, mas não com o coração (Isaías 19:13).
E assim, na cegueira dos conceitos meramente humanos, muitos não O viram enquanto Ele passava ao lado. Muitos perderam a luz.
Outros perceberam de Quem se tratava. Mas a realidade era tão aterrorizante que acharam melhor extinguir a luz – como se isso fosse de alguma forma possível. Afinal, àqueles que se valiam de um sistema religioso rígido para satisfazer suas próprias ambições de vaidade, era mais fácil dar um jeito para que as coisas continuassem como sempre estiveram.
Mas Ele veio e aos que O receberam em seus corações proporcionou algo impossível de se obter por esforços humanos: a verdadeira libertação.
Uma liberdade real, idealizada por Ele para todo homem quando tudo o que existe ainda era um mero projeto em Sua mente.
Uma liberdade que foi perdida no momento em que acreditamos que poderíamos ser deuses e que teríamos condições de transitar entre o bem e o mal sem nos corrompermos.
Uma liberdade que deixamos para trás quando tivemos presunção de andar sem que o Senhor nos guiasse.
Assim, Ele trouxe alívio a uma prostituta, libertou uma mulher adúltera, tocou e purificou aqueles considerados impuros, salvou um cobrador de impostos corrupto, restaurou vidas destruídas pelo demônio e recebeu a cruz destinada a um homicida... coisas que a religião dos homens jamais seria capaz de entender.
Assim, Ele libertou vidas das garras e da escravidão do pecado e lhes restaurou o direito de viver... coisas que a religião dos homens jamais seria capaz de fazer.
Nele, conseguimos nos ver como crianças pequenas, incapazes de discernir o bem do mal. Como crianças que dependem do olhar atento do Pai para que não se metam em confusão. Como crianças que se sentem seguras para atravessar a rua quando o Pai nos estende a mão e nos leva até o outro lado. Como crianças que ao final de um dia cansativo encontra descanso, conforto e confiança apenas no colo do Pai.
Nele, entendemos o quanto o pecado nos maltrata e percebemos que, como crianças, somos propensos a fazer aquilo que nos prejudica. Aprendemos a confiar que a vontade de Deus, na maioria das vezes não compreendida por nossa mente em estágio inicial de desenvolvimento, é sempre o que há de melhor para as nossas vidas, ainda que isso nos pareça difícil e contrarie os nossos impulsos e instintos primários... ainda que isso não pareça tão prazeroso quanto tudo aquilo que o nosso corpo pede para fazermos.
Em Cristo, percebemos que não há diferenças entre as pessoas - todos somos pecadores e igualmente carecemos Dele e do Seu sacrifício para recebermos vida (Romanos 3: 21-26). Percebemos que esta vida não está numa placa de igreja específica, não está na guarda de dias específicos (Romanos 14:5 e Gálatas 4: 10), não está no tipo de alimento que se come ou se deixa de comer (Romanos 14:2), não está em nenhuma obra que o homem possa fazer para tentar se salvar (Hebreus 9: 9-10), mas está exclusivamente na completa entrega e submissão a Cristo, para o nascimento da nova criatura e a renovação da mente (Efésios 4: 23-24).

Cristo, somente Cristo, é “o caminho, a verdade e a vida” (João 14: 6). Somente Ele nos liberta do pecado, nos dá alívio, nos prepara lugar no reino de Deus e nos leva até lá (João 14: 2-3). Somente Ele... coisas que a religião dos homens jamais será capaz de fazer.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Como está a sua sala de troféus?


Francisco Milton.

Essa pergunta parece encher de orgulho o brasileiro … a sala de troféus, no país do futebol, é algo magnífico, repleta de premiações e histórias de conquistas memoráveis, bastando lembrar de alguns dingos musicais como “a taça do mundo é nossa, com brasileiro não há quem possa” (refere-se à primeira conquista de 1958) ou mesmo “noventa milhões em ação, pra frente Brasil do meu coração” (canção de comemoração do tri campeonato de 1970).
Hoje somos quase “duzentos milhões em ação” contagiados com a Copa do Mundo que acontece nos gramados brasileiros.
Ouvir o hino nacional nos estádios ou o grito da torcida “eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor” é contagiante e todos, da criança ao adulto, estão juntos numa só torcida pela nossa seleção.
Quando criança, talvez no maior dos delírios, sonhei em ser jogador de futebol e, com a pureza própria da tenra idade, imaginava correr pelos gramados e marcar o gol da vitória de nossa seleção, mas logo cedo também facilmente percebi que a bola, minha pretensa amiga, não queria muita intimidade comigo … literalmente a bola, naturalmente redonda, nos meus pés parecia quadrada … não, não futebol não era a minha praia … tentei outros esportes, forcei uma amizade com a bola … tentei basquete, vólei, tênis … a bola mudou de cor e tamanho, mas eu e a bola não tínhamos aquela “química” facilmente percebida quando, por exemplo, o Neymar está com a sua fiel companheira, a bola.
Sem a admirada bola, a natação foi esporte que me acolheu.
A natação é esporte espetacular, pois, além das vantagens fisiológicas de trabalhar todas os músculos do corpo, o contato com a água, o mergulho e a flutuação me faziam, como um grande bebê, lembrar do ventre da minha mãezinha.
Nas competições escolares, ainda que não fosse um dos melhores, normalmente conseguia ganhar uma medalha … era um momento ímpar, o pódio, a premiação e a satisfação de vencer. Essa sensação eu revivi há alguns anos atrás quando voltei a nadar e o treinador convocou para a competição estadual de natação máster.
Duas medalhas conquistadas coletivamente, em provas por equipe, e lá estava eu novamente com as minhas humildes, mas significativas medalhas.
O momento passou, as medalhas, importantes no momento da conquista, estão agora empoeiradas no pescoço de uma das bonecas da minha filha … os troféus da seleção pentacampeão mundial de futebol que, outrora desfilaram pelas capitais do país, hoje estão guardados em exuberantes e esquecidas salas de troféus, demonstrando como é efêmera e fugaz a satisfação pela conquista do prêmio que “a traça e o ferrugem corrói e onde os ladrões minam e roubam” (Mateus 6, v. 19).
A Bíblia também registra a competição dos estádios e a busca pelo prêmio, ou “não sabeis vós que os que correm no estádio, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstenha; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível” (1 Coríntios 9, v. 24/25).
A competição entre os atletas terá um único vencedor, por isso, a Copa do Mundo iniciou com 32 (trinta e duas) seleções, porém apenas uma seleção receberá o troféu e será reconhecida como campeã.
A busca pela vitória dessas seleções envolve treinamento, concentração e foco na vitória, sendo a luta acirrada pelo troféu que, em breve, ficará num lindo e esquecido pedestal na sede de uma das seleções.
A tensão é enorme, os nervos estão a flor da pele, as famílias são separadas em prol da conquista, numa espécie de quarentena, cada detalhe é milimetricamente traçado em busca do prêmio que apenas uma seleção irá receber.
Traçando uma comparação com a caminhada de Jesus por essa terra, podemos fazer uma analogia com a preparação e a conquista da competição, embora com prêmios bem diferentes.
Jesus, mesmo sendo Deus, registra a Bíblia “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Filipenses 2, v. 6/8).
Jesus, durante toda a sua caminhada na terra, esvaziou-se de si mesmo, por amor a mim e a você, tornando-se um servo com o foco na vitória da vida sobre a morte e, como cordeiro perfeito e sem mácula, foi açoitado, humilhado, escarnecido, recebeu a coroa de espinhos e no madeiro, tendo a sua carne perfurada por cravos, Jesus, contemplando a eternidade, derramou o seu sangue para nos limpar de todo o pecado e nos entregar a coroa incorruptível da vida eterna.
Cabe a mim e a você, seguindo a Cristo, “revestimo-nos de misericórdia, de bondade, de humildade, mansidão e de paciência” (Colossenses 3, v. 12), olhar para Jesus, “o autor e consumador da fé” (Hebreus 12, v. 2).
A vitória de Cristo não se limita a um único atleta, a um único time ou a uma única seleção, mas a todos que, como Paulo, entregou a sua vida a Jesus Cristo, conservando a sua fé, com perseveração, amor e humildade até o fim dos seus dias “e agora está me esperando o prêmio da vitória, que é dado para quem vive uma vida correta, o prêmio que o Senhor, o justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos os que esperam, com amor, a sua vinda” (2 Timóteo 4, v. 8).
Você que está cansado dos prêmios efémeros que trazem apenas alegria momentânea e anseia por um sentido na sua vida, saiba que Jesus, nesse momento, pode trazer descanso para sua alma e dar um novo sentido à sua vida, basta hoje você crer no seu coração e confessar com os seus lábios que Jesus Cristo, ao morrer na cruz do calvário, remiu você de todos os seus pecados.
Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende” (Lucas 15, v. 7).
Que Deus nos abençoe e nos sustente até o dia da grande festa da premiação celestial!!!
Grande abraço,
Francisco Milton. 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

UM TRAPACEIRO NO VALE (ainda sobre “O Espelho e Graça)


Aquela seria a noite que mudaria toda a sua vida e de alguma forma ele pressentia isso.
Por conta de um sonho de vida, muita coisa já havia sido feita. Alguns acertos, alguns erros.
Lá atrás, quando tudo começou, havia a promessa e a expectativa de que ele chegaria longe. “Esse menino está destinado ao sucesso” era o que sua mãe havia ouvido e lhe transmitira, de modo que o caminho para as grandes conquistas já povoavam sua imaginação desde muito novo.
Assim, em sua mente ele tentava imaginar como mudar as coisas, como reverter situações adversas, como executar aquilo para o que entendia estar fadado. E dessa forma, absorveu a ideia de que deveria aproveitar todas as oportunidades e, quando essas não aparecessem, deveria ele próprio criá-las.
E desse jeito foi. Na primeira oportunidade que vislumbrou de tomar o posto de alguém (no caso, esse alguém era seu irmão mais velho), usou dos artifícios escusos que possuía para marcar sua posição de superioridade.
Mais tarde, com o auxílio da própria mãe, ludibriou seu pai, obtendo dele algo que entendia ser seu de direito.
Mas isso tudo teve um custo. Suas ações repentinas e impensadas geraram a fúria de seu irmão e o fizeram fugir, deixar toda sua história naquele local para preservar a própria vida.
Isso lhe vinha à mente naquela noite, anos e anos depois.
A imagem da fuga, os negócios celebrados no meio do caminho e as tentativas de obter sucesso a qualquer custo.
E de fato houve algum avanço. De alguma forma inexplicável, o pior não tinha acontecido ao longo dessa jornada. Pelo contrário, de alguma forma inexplicável as coisas até que pareciam ter dado certo. Algo parecia colocar as coisas no rumo sempre que ele parecia ter perdido tudo.
Uma família havia sido construída, embora não da forma planejada ou desejada. Os negócios prosperaram, apesar de todos os reveses experimentados e de todas as investidas sofridas (a maioria de seu próprio sogro). Havia bens, muitos bens. E havia muitos empregados.
Mas também havia toda uma vida deixada para trás, no momento da fuga, e a sensação de que toda aquela conquista não serviria para nada se ele não estivesse no lugar certo, se ele não pudesse voltar para a casa do pai.
Assim, ele pegou suas coisas, juntou sua família e decidiu voltar, percorrendo o longo caminho do retorno.
A caminhada deve ter sido dura. Não tanto pela distância. Deve ter sido dura pela carga carregada.
Sobre suas costas não estavam apenas os bens e as pessoas que transportava. Estavam todos os erros cometidos ao longo do caminho, que, a essa altura, se acumulavam a cada passo dado. Estavam as tentativas de trapacear, de lucrar a qualquer custo, de obter sua satisfação pessoal ou seu prazer acima de qualquer coisa.
O peso aumentava e naquela noite era necessário se desfazer desse fardo. Ele sabia disso. Sabia que a caminhada de volta não seria possível com tanto peso nas costas. Sabia que somente ele poderia fazer algo para reduzir toda essa carga.
Por isso, fez com que sua família passasse adiante e decidiu permanecer sozinho no vale por toda aquela noite. Decidiu enfrentar ali, de uma vez por todas, aquilo que o atormentava tanto. Decidiu olhar para o espelho e permitir que a luz trouxesse à tona tudo o que ele realmente era, mas teimava em esconder. Decidiu estar na presença de Deus.
E naquele exato momento em que o trapaceiro decidiu enxergar o que era e enfrentar sua condição miserável, Deus se fez presente.
No início desse confronto houve muita resistência. Houve luta, embate físico e dor. Uma briga que parecia interminável entre um homem e Deus.
Deus poderia tê-lo exterminado a qualquer momento, assim como poderia ter impedido que toda aquela caminhada torta de vida tivesse chegado até ali. Mas essa não era a Sua vontade. Não era Sua vontade terminar com a vida ignóbil daquele pequeno ser.
Então, Deus permitiu que aquele homem lutasse, esgotasse suas forças tentando fazer de si um vencedor até que terminasse por entender, com toda essa luta, a dimensão da sua imperfeição e da sua fragilidade.
Quando isso ocorreu, aquele trapaceiro enxergou a verdade que mudaria toda a sua vida: não se tratava dele, de seus valores, de seus esforços. Tratava-se do amor e da graça de Deus por Ele. Tudo girava em torno desse amor e dessa graça.
Ele era apenas um trapaceiro. Um homem com caráter defeituoso, que havia enganado seu próprio irmão e seu próprio pai. Que havia tentado de todas as formas ser algo por conta própria e percebeu que as coisas simplesmente não estavam sob o seu controle. Ele era apenas mais um ser desprezível, incompreensivelmente amado por um Deus único e pleno em poder, santidade e glória.
Encarar essa imagem no espelho foi difícil e ele relutou por uma noite inteira. Mas enxergar a graça o fez desejá-la mais do que à sua própria vida. E aquele homem deixou de querer lutar com Deus e decidiu agarrá-Lo. Decidiu abraçar a graça com todas as suas forças e não deixá-la perdida. Decidiu se render a Deus e se colocar sob os Seus desígnios infalíveis.
Naquele momento, Jacó, o trapaceiro, ganhou um novo nome: Israel. E Israel, o príncipe que prevaleceu após ter lutado com Deus, pôde retornar à casa do pai e ver como Deus (não mais as forças do próprio Jacó) o levaria a ser o grande patriarca para o qual estava destinado desde seu nascimento.
Israel não se tornou perfeito. A história nos mostra que sua natureza defeituosa ainda iria lhe colocar em situações difíceis até o final de sua vida.
Mas o fato de Israel deixar de lutar com Deus e se permitir ser guiado pela graça o levou a perceber, no final dos seus dias, que Deus havia realizado em sua vida tudo aquilo que havia sido prometido no início. A missão estava cumprida (não por ele, mas pela graça que o acompanhava) e ele poderia descansar tranquilamente ao lado do Pai.
Eu, você e Jacó, o trapaceiro. Se prestarmos atenção veremos que há uma esperança, única, nos aguardando no vale.
Então, por que lutar tanto?
(Gênesis 26-50)

domingo, 8 de junho de 2014

O ESPELHO E A GRAÇA



Um homem feio... terrivelmente feio!
Uma aparência assustadora, tenebrosa.
Eis o que eu vi. E o que eu vi não foi nada agradável.
Enquanto eu apenas questionava as mazelas do mundo, as injustiças, os terremotos, as doenças e os crimes hediondos, a imagem que eu tinha de mim mesmo era boa, aprazível. Um certo sentimento de justiça, uma sensação de superioridade com relação a um monte de pessoas com sérias deturpações de caráter realmente me faziam ver uma bela imagem de mim mesmo durante tantos questionamentos.
Mas eu resolvi colocar Deus no negócio e no meio de tantas perguntas, no alto do meu trono de julgador, Ele simplesmente me deu um espelho e acendeu a luz.
É óbvio que não se tratava de um espelho qualquer. Por meio dele era possível ver por dentro, enquanto a luz trazia à vista coisas que estiveram ocultas por muito tempo.
Revelavam-se assim pensamentos e sentimentos, muitos dos quais transformados em palavras e gestos. Revelavam-se motivações ocultas, escusas. Havia orgulho, inveja, cobiça, luxúria, manipulação, dissimulação, ira, rancor, culpa, murmuração, arrogância... e quer saber? Toda essa imagem me aterrorizava. Aquele era eu, desnudado.
As minhas tentativas de encobrir essa realidade eram vãs.
Dia após dia uma maquiagem de autocontrole usada para tentar disfarçar aquela imagem horripilante. O moralismo e o legalismo associados a terno, gravata, perfume e um discurso decorado... tudo em vão.
No final, ao olhar para o espelho, a velha imagem denunciava a ineficácia dos meus esforços. Naquele espelho, a maquiagem não produzia o efeito desejado. O homem feio continuava ali... e continuava feio.
O que fazer diante disso?
Poderia simplesmente quebrar esse espelho e jogá-lo fora, trocando-o por outro que me mostrasse uma imagem compatível com todos os meus esforços. Aliás, foi isso o que fizeram há cerca de 2000 anos quando o mesmo espelho apareceu confrontando as pessoas consigo mesmas... decidiram quebrar o espelho para seguir, cada um, com a sua autoimagem. Em suma, poderia dispensar a presença de Deus nessa conversa e seguir adiante, de certa forma em paz comigo mesmo.
Esse talvez fosse o caminho mais fácil. Há tantos espelhos por aí que podem ser colocados no mesmo lugar sem causar tantos desconfortos. Espelhos que me mostrariam a possibilidade de construir e manter uma imagem melhor ao longo dos anos. Espelhos que mostrariam o rosto maquiado através dos meus próprios esforços como se aquele fosse o meu rosto natural. Espelhos que dispensariam o sacrifício da cruz e dariam valor às minhas iniciativas particulares.
Mas também poderia aceitar que a imagem refletida no espelho era realmente a minha e é assim que eu me revelo na presença de um Deus que é santo, puro. Aceitar que não há nada que eu possa fazer para mudar essa realidade, pois continuarei tendo pensamentos, sentimentos e ações que revelam a realidade da minha natureza até o fim dos meus dias.
Duas opções apenas... nenhuma outra.
Nesse contexto, reconhecer o que sou, quando a luz traz à mostra tudo quanto oculto em mim ao longo do dia, poderia parecer a opção mais irracional e dolorosa das apresentadas. Mas há algo que não se pode desprezar: essa é a única opção permite enxergar e aceitar a graça de Deus, achegando-se a Ele.
Apesar daquela imagem horrenda revelada pelo espelho Deus quer se aproximar.
Apesar da natureza deturpada, dos pensamentos indignos e dos sentimentos egoístas que nos acompanharão até o fim dos nossos dias, Deus quer estender a nós o seu incomparável amor e nos permitir andar em Sua companhia.
Apesar do que somos Deus quer colocar Seu Santo Espírito à nossa disposição, para habitar em nós e nos levar a um lugar mais alto, aonde aquele homem horrível visto no espelho jamais poderia chegar com suas próprias pernas.
Aceite a graça. Entregue-se a ela. Coloque nas mãos do Senhor todos os seus pensamentos, sentimentos, ações e deixe que Ele conduza os seus passos.
Não tente resistir e nem tente controlar. Não diga a Deus que você sabe como ou o que fazer, jogando fora o espelho, nem tente se iludir pensando ser capaz de modificar aquela imagem assustadora de alguma forma.
Se o espelho aparecer na sua frente, não o ignore nem o destrua. Mais do que mostrar uma imagem feia e desagradável esse espelho serve para revelar o amor de Deus e o quanto Ele anseia pela sua companhia. Deixe-O fazer, portanto, aquilo que só Ele pode fazer por você!

domingo, 1 de junho de 2014

PODE SER HOJE!



Seria um dia como qualquer outro não fosse aquela carruagem na porta da minha casa. Um dia normal, em que o cansaço do trabalho me faria pensar duas vezes antes de levantar do sofá para atender a campainha. Mais um dia de batalhas, corrida contra o tempo para entregar alguns relatórios, atrasos devido ao transito.
Mas a campainha tocou e eu, embora cansado, resolvi atender.
Na porta, se apresentou um homem muito bem vestido, com uma carta nas mãos. Mas o que me intrigou mesmo foi ver uma carruagem parada em frente à garagem.
Pensei que talvez fosse uma pegadinha, uma peça sendo pregada por algum amigo, mas o homem falou muito sério: “O Rei pediu que lhe entregasse”.
Rei?”, pensei eu, “Que rei?”, mas nada disse.
Comecei a ler a carta, ainda achando que se tratava de alguma brincadeira.
O Rei está aguardando que o senhor o convide para entrar pois há muitas coisas que Ele pretende conversar com o senhor. Coisas do seu interesse”.
Embora continuasse intrigado com esse negócio de “Rei”, a seriedade do homem à porta e a majestosa carruagem estacionada em frente de casa me levaram a considerar que aquilo não era uma brincadeira. Imediatamente, pensei que talvez meus tributos estivessem sendo cobrados. Afinal, eram tantas as minhas dívidas que isso me trouxe o medo de sair dali preso, encarceirado.
Mas logo em seguida li uma curiosa afirmação na carta: “O Rei informa que não veio para cobrar suas dívidas nem para executar nenhuma pena nesse momento. Na verdade, se o senhor aceitar, Ele já pagou tudo o que o senhor devia”.
Aquilo era realmente muito estranho. Ouvir que se eu aceitasse minhas dívidas estavam pagas me deixou desconfiado. O que esse tal “Rei” poderia desejar de mim?
Fiquei um tanto ressabiado, principalmente quando li o que vinha a seguir: “Se o senhor consentir com a Sua entrada, o Rei pretende sentar à mesa com o senhor para cearem”.
Mas que negócio era esse? Entrar em minha casa? Estava tudo bagunçado, fora do lugar. Tinha esquecido de retirar o lixo e limpar o quarto. Havia muita sujeira.
Como eu poderia sentar à mesa com um rei? Não havia tomado banho ainda e nem tinha uma roupa chique para recepcioná-lo.
E o que eu ofereceria para um rei? A geladeira estava vazia. Na realidade, o mês havia sido maior que o meu salário e não havia quase nada para comer.
Mas a carta parecia ler os meus pensamentos, já que continuava: “O Rei não se importa com a forma como o senhor está vestido, tampouco com o estado de limpeza e conservação da própria casa. Receba-O do jeito que está.”
Na verdade, o próprio Rei quer lhe oferecer um banquete, abastecer sua despensa, limpar a sua casa, lhe dar banho e lhe vestir. Para isso, Ele lhe trouxe roupas de linho puro”.
O convite era estranho, inusual. Nada parecia fazer sentido. Como assim, um rei me lavando, limpando a minha casa e me preparando um banquete para cearmos juntos? Um rei deve ser servido, não servir... principalmente alguém como eu.
Mas ao mesmo tempo ter toda essa experiência era algo tentador. Por que não?
Resolvi aceitar e então vi o Rei, com toda sua majestade e poder, entrando na minha humilde e indigna casa. Com vergonha e timidez, mas com uma vontade que aumentava cada vez mais de estar na companhia de alguém que até então residia somente na distância da minha imaginação.
O Rei entrou.
Com paciência e sensibilidade ímpar, o Rei me despiu. Percebeu algumas feridas ainda não cicatrizadas e as limpou, aliviando minhas dores. Lavou-me, retirando sujeira que há décadas estava impregnada em meu corpo. Depois, me vestiu com uma roupa limpa, digna de alguém que poderia estar na Sua presença. Me calçou e colocou um anel no meu dedo.
Quanto à casa, os móveis foram arrastados para que todo o lixo pudesse ser recolhido. Os chãos foram lavados e encerados. As coisas foram recolocadas no lugar. A lâmpada, que estava queimada, reacendeu.
A despensa e a geladeira foram reabastecidas. E havia tanto alimento, que eu era capaz de distribuir a todos os meus vizinhos sem que me faltasse nada em tempo algum.
Então, ceamos.
À mesa, Ele sorriu de forma doce e eu senti paz... uma paz que há muito tempo não sentia. Começou a falar sobre mim e sobre planos, muitos planos.
Narrou minha vida em detalhes, mas sem acusações. Seu olhar era misericordioso e Sua mão estava estendida, permitindo que eu visse algumas marcas profundas, as quais, sabia eu, tinham sido adquiridas por minha causa. Mas Ele não me denunciou.
Por fim, me deu uma outra carta e eu nem precisei abrir para saber do que se tratava. Meu coração dizia que era a minha alforria, a minha libertação. E de fato nela estava escrito: VOCÊ ESTÁ LIVRE!
Pode parecer loucura. Pode parecer imaginação fértil, um sonho. Mas era verdade. Talvez não com todo esse cenário. Talvez não nessa exata sequência. Mas foi tudo verdade.
Ao final do dia de hoje, preste atenção. Quem sabe seus pensamentos e suas preocupações não estejam te impedindo de ouvir o barulho da campainha, de escutar alguém batendo à porta. Quem sabe há muito tempo o Rei não está aguardando:
Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.
Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono.

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (Apocalipse 3:20-22)