Um homem feio... terrivelmente feio!
Uma aparência assustadora, tenebrosa.
Eis o que eu vi. E o que eu vi não foi nada agradável.
Enquanto eu apenas questionava as mazelas do mundo, as injustiças,
os terremotos, as doenças e os crimes hediondos, a imagem que eu
tinha de mim mesmo era boa, aprazível. Um certo sentimento de
justiça, uma sensação de superioridade com relação a um monte de
pessoas com sérias deturpações de caráter realmente me faziam ver
uma bela imagem de mim mesmo durante tantos questionamentos.
Mas eu resolvi colocar Deus no negócio e no meio de tantas
perguntas, no alto do meu trono de julgador, Ele simplesmente me deu
um espelho e acendeu a luz.
É óbvio que não se tratava de um espelho qualquer. Por meio dele
era possível ver por dentro, enquanto a luz trazia à vista coisas
que estiveram ocultas por muito tempo.
Revelavam-se assim pensamentos e sentimentos, muitos dos quais
transformados em palavras e gestos. Revelavam-se motivações
ocultas, escusas. Havia orgulho, inveja, cobiça, luxúria,
manipulação, dissimulação, ira, rancor, culpa, murmuração,
arrogância... e quer saber? Toda essa imagem me aterrorizava. Aquele
era eu, desnudado.
As minhas tentativas de encobrir essa realidade eram vãs.
Dia após dia uma maquiagem de autocontrole usada para tentar
disfarçar aquela imagem horripilante. O moralismo e o legalismo
associados a terno, gravata, perfume e um discurso decorado... tudo
em vão.
No final, ao olhar para o espelho, a velha imagem denunciava a
ineficácia dos meus esforços. Naquele espelho, a maquiagem não
produzia o efeito desejado. O homem feio continuava ali... e
continuava feio.
O que fazer diante disso?
Poderia simplesmente quebrar esse espelho e jogá-lo fora, trocando-o
por outro que me mostrasse uma imagem compatível com todos os meus
esforços. Aliás, foi isso o que fizeram há cerca de 2000 anos
quando o mesmo espelho apareceu confrontando as pessoas consigo
mesmas... decidiram quebrar o espelho para seguir, cada um, com a sua
autoimagem. Em suma, poderia dispensar a presença de Deus nessa
conversa e seguir adiante, de certa forma em paz comigo mesmo.
Esse talvez fosse o caminho mais fácil. Há tantos espelhos por aí
que podem ser colocados no mesmo lugar sem causar tantos
desconfortos. Espelhos que me mostrariam a possibilidade de construir
e manter uma imagem melhor ao longo dos anos. Espelhos que mostrariam
o rosto maquiado através dos meus próprios esforços como se aquele
fosse o meu rosto natural. Espelhos que dispensariam o sacrifício da
cruz e dariam valor às minhas iniciativas particulares.
Mas também poderia aceitar que a imagem refletida no espelho era
realmente a minha e é assim que eu me revelo na presença de um Deus
que é santo, puro. Aceitar que não há nada que eu possa fazer para
mudar essa realidade, pois continuarei tendo pensamentos, sentimentos
e ações que revelam a realidade da minha natureza até o fim dos
meus dias.
Duas opções apenas... nenhuma outra.
Nesse contexto, reconhecer o que sou, quando a luz traz à mostra
tudo quanto oculto em mim ao longo do dia, poderia parecer a opção
mais irracional e dolorosa das apresentadas. Mas há algo que não se
pode desprezar: essa é a única opção permite enxergar e aceitar a
graça de Deus, achegando-se a Ele.
Apesar daquela imagem horrenda revelada pelo espelho Deus quer se
aproximar.
Apesar da natureza deturpada, dos pensamentos indignos e dos
sentimentos egoístas que nos acompanharão até o fim dos nossos
dias, Deus quer estender a nós o seu incomparável amor e nos
permitir andar em Sua companhia.
Apesar do que somos Deus quer colocar Seu Santo Espírito à nossa
disposição, para habitar em nós e nos levar a um lugar mais alto,
aonde aquele homem horrível visto no espelho jamais poderia chegar
com suas próprias pernas.
Aceite a graça. Entregue-se a ela. Coloque nas mãos do Senhor todos
os seus pensamentos, sentimentos, ações e deixe que Ele conduza os
seus passos.
Não tente resistir e nem tente controlar. Não diga a Deus que você
sabe como ou o que fazer, jogando fora o espelho, nem tente se iludir
pensando ser capaz de modificar aquela imagem assustadora de alguma
forma.
Se o espelho aparecer na sua frente, não o ignore nem o destrua.
Mais do que mostrar uma imagem feia e desagradável esse espelho
serve para revelar o amor de Deus e o quanto Ele anseia pela sua
companhia. Deixe-O fazer, portanto, aquilo que só Ele pode fazer por
você!
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