domingo, 8 de junho de 2014

O ESPELHO E A GRAÇA



Um homem feio... terrivelmente feio!
Uma aparência assustadora, tenebrosa.
Eis o que eu vi. E o que eu vi não foi nada agradável.
Enquanto eu apenas questionava as mazelas do mundo, as injustiças, os terremotos, as doenças e os crimes hediondos, a imagem que eu tinha de mim mesmo era boa, aprazível. Um certo sentimento de justiça, uma sensação de superioridade com relação a um monte de pessoas com sérias deturpações de caráter realmente me faziam ver uma bela imagem de mim mesmo durante tantos questionamentos.
Mas eu resolvi colocar Deus no negócio e no meio de tantas perguntas, no alto do meu trono de julgador, Ele simplesmente me deu um espelho e acendeu a luz.
É óbvio que não se tratava de um espelho qualquer. Por meio dele era possível ver por dentro, enquanto a luz trazia à vista coisas que estiveram ocultas por muito tempo.
Revelavam-se assim pensamentos e sentimentos, muitos dos quais transformados em palavras e gestos. Revelavam-se motivações ocultas, escusas. Havia orgulho, inveja, cobiça, luxúria, manipulação, dissimulação, ira, rancor, culpa, murmuração, arrogância... e quer saber? Toda essa imagem me aterrorizava. Aquele era eu, desnudado.
As minhas tentativas de encobrir essa realidade eram vãs.
Dia após dia uma maquiagem de autocontrole usada para tentar disfarçar aquela imagem horripilante. O moralismo e o legalismo associados a terno, gravata, perfume e um discurso decorado... tudo em vão.
No final, ao olhar para o espelho, a velha imagem denunciava a ineficácia dos meus esforços. Naquele espelho, a maquiagem não produzia o efeito desejado. O homem feio continuava ali... e continuava feio.
O que fazer diante disso?
Poderia simplesmente quebrar esse espelho e jogá-lo fora, trocando-o por outro que me mostrasse uma imagem compatível com todos os meus esforços. Aliás, foi isso o que fizeram há cerca de 2000 anos quando o mesmo espelho apareceu confrontando as pessoas consigo mesmas... decidiram quebrar o espelho para seguir, cada um, com a sua autoimagem. Em suma, poderia dispensar a presença de Deus nessa conversa e seguir adiante, de certa forma em paz comigo mesmo.
Esse talvez fosse o caminho mais fácil. Há tantos espelhos por aí que podem ser colocados no mesmo lugar sem causar tantos desconfortos. Espelhos que me mostrariam a possibilidade de construir e manter uma imagem melhor ao longo dos anos. Espelhos que mostrariam o rosto maquiado através dos meus próprios esforços como se aquele fosse o meu rosto natural. Espelhos que dispensariam o sacrifício da cruz e dariam valor às minhas iniciativas particulares.
Mas também poderia aceitar que a imagem refletida no espelho era realmente a minha e é assim que eu me revelo na presença de um Deus que é santo, puro. Aceitar que não há nada que eu possa fazer para mudar essa realidade, pois continuarei tendo pensamentos, sentimentos e ações que revelam a realidade da minha natureza até o fim dos meus dias.
Duas opções apenas... nenhuma outra.
Nesse contexto, reconhecer o que sou, quando a luz traz à mostra tudo quanto oculto em mim ao longo do dia, poderia parecer a opção mais irracional e dolorosa das apresentadas. Mas há algo que não se pode desprezar: essa é a única opção permite enxergar e aceitar a graça de Deus, achegando-se a Ele.
Apesar daquela imagem horrenda revelada pelo espelho Deus quer se aproximar.
Apesar da natureza deturpada, dos pensamentos indignos e dos sentimentos egoístas que nos acompanharão até o fim dos nossos dias, Deus quer estender a nós o seu incomparável amor e nos permitir andar em Sua companhia.
Apesar do que somos Deus quer colocar Seu Santo Espírito à nossa disposição, para habitar em nós e nos levar a um lugar mais alto, aonde aquele homem horrível visto no espelho jamais poderia chegar com suas próprias pernas.
Aceite a graça. Entregue-se a ela. Coloque nas mãos do Senhor todos os seus pensamentos, sentimentos, ações e deixe que Ele conduza os seus passos.
Não tente resistir e nem tente controlar. Não diga a Deus que você sabe como ou o que fazer, jogando fora o espelho, nem tente se iludir pensando ser capaz de modificar aquela imagem assustadora de alguma forma.
Se o espelho aparecer na sua frente, não o ignore nem o destrua. Mais do que mostrar uma imagem feia e desagradável esse espelho serve para revelar o amor de Deus e o quanto Ele anseia pela sua companhia. Deixe-O fazer, portanto, aquilo que só Ele pode fazer por você!

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