Marcelo
Luís de Souza Ferreira
Uma viagem pelo mundo num navio
de cruzeiro. Que sonho!
Formamos um grupo de trinta
pessoas amigas: alguns casais numa segunda lua-de mel, algumas
famílias com crianças, algumas pessoas de mais idade, alguns
solteiros.
Compramos a passagem por um peço
muito baixo, uma pechincha, e com grande alegria nosso grupo embarcou
naquele navio com outras cinco mil pessoas desconhecidas.
Algumas dessas outras pessoas
eram bem divertidas, outras carrancudas e mal-humoradas. Havia
algumas crianças bem chatas, pessoas muito chiques e gente muito
simples também, que reuniu tudo o que tinha de recurso financeiro
para realizar esse sonho.
Na acomodação, alguns ficaram
instalados em suítes muito luxuosas, alguns em suítes básicas, mas
todos estavam no mesmo navio.
Havia piscinas, shows,
atividades em grupo. É certo que nem todos participavam da viagem
com o mesmo entusiasmo. Houve quem aproveitava de tudo, mas houve
também quem passou a viagem inteira com enjoos, se arrependendo do
dia em que decidiram entrar nessa aventura – muitos não por
vontade própria, esclareça-se.
Até fizemos algumas amizades
fora do nosso grupo, mas a verdade é que ainda estávamos entre
cinco mil desconhecidos no meio da viagem. Afinal, havia tanto por
aproveitar dentro do navio e tanta paisagem linda para ver que o
tempo realmente era muito curto.
Então, surgiu um grande
problema.
Era noite e enquanto alguns
aproveitavam a apresentação de um grupo de danças típicas no
salão principal iniciou-se um incêndio de grandes proporções no
porão do navio, que se alastrou rapidamente ao atingir determinado
material de alta combustão.
O fogo passa a consumir tudo o
que vê pela frente. Estamos diante do inevitável: o navio não
resistirá e em poucas horas terá naufragado.
O aviso chega aos passageiros,
que se desesperam. Gritam, correm, pulam uns sobre os outros,
empurram-se mutuamente na tentativa de subir ao convés, ainda que
saibam que mesmo lá serão atingidos.
E o fogo segue consumindo tanto
as dependências do navio quanto alguns incautos que correram em sua
direção ao invés de fugir.
Nesse cenário, você, que faz
parte desse nosso grupo de amigos, descobre uma placa indicando que
em um lugar seguro do navio estão guardados coletes e botes
salva-vidas suficientes para todos os que ainda não foram
consumidos.
Parece loucura, mas no desespero
e na correria ninguém havia parado para ler as instruções dessa
placa, que a todo tempo estava ali e por algum motivo chamou a sua
atenção naquele exato momento.
Ao ler essa placa, a sensação
de alívio que você sentiu foi imediata. Afinal, temos como nos
salvar, basta seguir tais instruções.
Mas, e agora? O que fazer?
O quadro descrito acima é de
extrema dramaticidade. Trata-se logicamente de uma situação
hipotética, embora saibamos que situações da espécie já
ocorreram, mas que precisou ser vislumbrada para que se possam fazer
as seguintes perguntas: Você, que encontrou e compreendeu o que
estava escrito na placa, faria o que? Subiria sozinho ao local
indicado e obteria sozinho os itens necessários para a sua exclusiva
salvação? Chamaria apenas sua família ou alguns amigos para
compartilhar desse tesouro? Ou anunciaria a todos os que ainda
estavam vivos naquele navio a sua descoberta, rumando com eles à
sala segura?
Esta é a introdução – um
pouco longa, mas necessária – para a nossa reflexão.
Creio ser consenso entre todos
nós que vivemos num mundo caótico. Estamos todos – eu, você,
nossos familiares, nossos amigos e vários desconhecidos – dentro
desse mesmo navio que está se incendiando.
Aos poucos vemos vários
conhecidos sendo consumidos por esse incêndio. Pessoas que são
assassinadas, que adoecem para a morte, que se entregam para as
drogas. Famílias que se desfazem, pais que abandonam os filhos e
filhos que matam os pais. É o mesmo navio!
No meio disso tudo, alguns de
nós encontram a placa, descobrem o caminho da salvação, encontram
Jesus e conhecem o seu imensurável e poderoso amor, capaz de aliviar
toda e qualquer carga, de libertar cada um de sua própria prisão,
de restaurar relações desgastadas e de dar esperanças quanto a um
futuro maravilhoso. E o que fazemos? O que devemos fazer?
O próprio Jesus nos responde
quando diz “Ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso
ou a põe debaixo da cama. Antes, coloca-a no velador, para que os
que entram vejam a luz” (Lc 11. 33). Em palavras atuais, se faltar
energia elétrica em nossa casa à noite, corremos em busca de uma
vela, a acendemos e a colocamos num lugar em que essa luz possa
beneficiar a todos. Ou alguém acende a vela e a coloca embaixo da
cama?
Em suma, entendida a mensagem da
placa de salvação o que Jesus nos diz é que devemos anunciá-la de
modo a que chegue aos ouvidos de todos os que ainda estão vivos
dentro do navio. A mensagem deve servir não apenas para nós, nossos
amigos ou nossos familiares, mas para todos!
Alguns não ouvirão, ocupados
que estão em correr desesperadamente rumo a algum lugar que não os
salvará. Outros ouvirão e não acreditarão, preferindo seguir o
caminho que ilusoriamente criaram para si. Mas haverá quem ouça,
entenda e nos acompanhe. Haverá quem ouça e a repasse a outros,
ajudando-os a chegar ao mesmo destino salvador.
Como não conhecemos o que se
passa no íntimo de cada um, não nos cabe escolher a quem transmitir
a mensagem. Devemos repassá-la a todos!
Após vencer a morte e resgatar
com seu sangue as nossas almas, Jesus ordenou a seus discípulos:
“Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc
16. 15). E essa foi a única tarefa dada por nosso Mestre, a de
espalhar a notícia da salvação e de divulgar que o Reino de Deus
já é chegado através do amor de Jesus Cristo.
Divulgar a todos, não nos
cabendo julgar o passado e o presente de quem ouvirá a mensagem.
Afinal, Ele não nos julgou quando por Amor desejou que O
conhecêssemos.
Cabe a nós a tarefa do semeador
(Mt 13), que espalha suas sementes lançando-as ao vento, por todo
tipo de terreno. A frutificação será obra de Deus no coração do
homem.
E essa tarefa nos é dada por
amor de Deus a nós. Apenas por amor.
Notem que Deus não precisa de
nós para isso. Tendo Ele poder sobre todas as coisas, seria fácil
mostrar a cada um diretamente o caminho da salvação. Mas Ele nos
quer nesse trabalho porque somente assim haverá espaço para Ele
habitar dentro de nós e somente com Ele vivendo em nossos corações
temos condições de experimentar esse amor criador, revelador,
apaziguador.
E é assim, ao entregar a
mensagem de salvação pelo mundo, que veremos as bençãos de Deus
tanto nas vidas daqueles a quem atingimos quanto em nossas próprias
vidas. Experimentaremos assim o milagre da transformação tal qual o
primeiro efetuado por Jesus, que para que houvesse festa e alegria
transformou a insípida água no melhor e mais saboroso dos vinhos
(Jo 2).
O primeiro milagre foi escolhido
a dedo, pois revela que esse é o primeiro passo: a presença de
Cristo transforma e essa transformação gera uma alegria que não
pode ser contida numa só pessoa, mas deve servir para a verdadeira
festa de todos os que a presenciam.
Portanto, se você quer a
verdadeira alegria, leve a mensagem. Espalhe-a pelo mundo, por onde
você andar e para quem estiver em seu caminho, deixando que Deus se
incumba de fazê-la frutificar. Se permita ver a ação de Deus.
Espalhe a mensagem quando você
se sentir fraco, debilitado, a ponto de desistir, pois na sua
fraqueza Deus o fortalecerá e com Ele agindo através de você a sua
própria angústia deixará de existir e você verá a luz para o seu
próprio problema.
Se não tiver forças para
gritar, lendo para todos a mensagem da placa, e continuar andando
pelo caminho certo, sussurre-a a quem estiver do seu lado naquele
momento, pois talvez essa pessoa tenha o instrumento necessário para
fazer com que outros ouçam o mesmo aviso e todos obtenham juntos a
alegria da salvação, dando a você a força necessária para
prosseguir na caminhada.
Se não souber falar, deixe Deus
usar os dons que Ele mesmo lhe deu. Alguns cantam, alguns escrevem,
outros dançam, uns pintam, uns falam, mas alguns simplesmente
abraçam, permitindo que assim Deus os use para abençoar outras
vidas e serem ao mesmo tempo abençoados.
Liberte-se, levando a mensagem.
Alegre-se, levando a mensagem. Ganhe sua própria vida, levando a
mensagem.
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