segunda-feira, 10 de março de 2014

VAMOS PARAR DE PEDIR MILAGRES. NÓS NÃO MERECEMOS!


Já há algum tempo que os louvores, pregações e orações que enaltecem nossa busca por milagres como se fossem um direito têm me incomodado. Tenho ouvido falar muito nisso, escutado muitas canções incentivando as pessoas a acreditarem que os milagres ocorrerão em suas vidas e presenciado pastores e líderes levantando essa bandeira, mas dentro de mim a cada abordagem desse tipo algo me causa repulsa.
Não estou dizendo que não acredito em milagres, tampouco que não creio no Deus misericordioso que nos agracia já nessa vida com tesouros inestimáveis. Não é isso!
O meu incômodo vem do fato de que a mensagem não tem sido passada em sua integralidade ou tem sido recebida apenas em parte e isso tem feito com que cada vez mais pessoas se reportem a Deus como se Ele fosse o servo, o realizador de desejos ou o “quebra-galhos” a quem nos recorremos sempre que não conseguimos resolver os problemas que nós próprios criamos.
Com a mensagem da forma como tem sido passada nós esquecemos que Deus nos propõe uma aliança e toda aliança exige compromisso e sacrifício recíprocos. Por isso, hoje em dia ouvimos tanto falar que “Deus é fiel” mas não percebemos as pessoas preocupadas em corresponder a isso, ou seja, não encontramos tantas pessoas assim que sejam fiéis a Ele.
Deus faz milagres sim. A Bíblia está repleta de relatos do passado e mesmo hoje, procurando atentamente, nos deparamos com inúmeros milagres, desde a recuperação de uma vida já perdida como a ressuscitação de pessoas dadas como mortas pela medicina.
Deus quer agir nas nossas vidas sim. Ele continua querendo entrar na nossa casa para nos transformar e nos levar a ser aquilo para o que fomos destinados.
Ele quer nos presentear como filhos, concedendo-nos já em vida parte da herança reservada a nós.
Mas Deus também quer que nós assumamos nosso compromisso com Ele. Um compromisso de confiança e entrega completa à Sua ação. Um compromisso de real submissão à Sua soberana vontade. O reconhecimento daquilo que somos (o pó da terra) e de Quem Ele é (o Todo-Poderoso).
Tenho sentido que buscamos a Deus quando as coisas não vão bem, mas não abrimos a porta para que Jesus entre. E Ele continua batendo à porta, esperando que alguém queira recebê-lo como único senhor de sua vida.
Infelizmente, não queremos que Ele entre. Queremos apenas que Ele dê um jeito naquela situação incômoda em que nos metemos, mas não desejamos servi-lo.
O interessante é que sequer somos capazes de perceber que na maioria das vezes só necessitamos de milagres porque tomamos decisões erradas por nossa própria conta e risco, mas na hora em que tudo dá errado corremos para suplicar que o Pai dê o seu jeito de resolver.
Não perguntamos com quem Ele quer que nos unamos. Tomamos por nossas próprias paixões as nossas decisões e só nos lembramos de Jesus quando o casamento, a parceria ou a sociedade vai de mal a pior, como se Ele fosse o culpado pelas nossas desventuras.
Não questionamos como devemos educar nossos filhos, mas jogamos sobre Ele a responsabilidade de tirá-los das drogas, das más companhias, do caminho da desobediência e do desrespeito.
Gastamos nosso dinheiro sem perguntar a Ele se os recursos que Ele nos deu devem ser usados de uma ou de outra forma, mas depois corremos ao Seu encontro para que Ele nos livre das dívidas.
Ah! Se olhássemos melhor para o que pedimos...
O pior a meu ver, no entanto, nem são as más escolhas que tornam necessário o milagre. O pior é não enxergar que para termos o milagre há algo em nossa conduta que precisa mudar, há algo que nós precisamos fazer.
Jesus disse que tudo é possível ao que crê pouco antes de realizar a cura de um jovem endemoninhado a pedido de seu pai (Mc 9. 23), demonstrando ali que a ação de Deus nas nossas vidas dependerá da nossa fé.
O problema é que não entendemos a fé e os discursos atualmente não nos ajudam a compreender aquilo que Jesus disse.
Porém, basta ler um pouco a própria Bíblia para encontrar o real significado de tão grande promessa. Deus nos ensina, através de Tiago, que assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma (Tg 2. 17) e o próprio Jesus afirmou que se tivésseis como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te daqui, e planta-te no mar; e ela vos obedeceria (Lc 17. 6), esclarecendo em outra passagem é semelhante ao grão de mostarda que um homem, tomando-o, lançou na sua horta; e cresceu, e fez-se grande árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu (Lc 13. 19).
O que Jesus nos ensina é que o milagre depende de uma ação de fé. Não é apenas pensar positivamente ou afirmar que acredita que o milagre se realizará. É necessário agir em conformidade com aquilo em que se crê, o que implica em necessária mudança de postura e comportamento diante da adversidade.
E nisso a Bíblia também está repleta de exemplos. Os milagres nela relatados nos ensinam justamente isso.
O primeiro milagre público de Jesus, que ocorreu em um casamento, só foi possível porque Jesus havia sido convidado para as bodas. E havia sido convidado porque os noivos queriam o prazer da sua presença, não pelo interesse de receber o milagre (afinal, sequer sabiam ainda que Jesus era capaz de fazer o que fez).
A cura do jovem endemoninhado relatada em Marcos 2 só ocorreu porque o pai do jovem se dirigiu diretamente a Jesus e se dispôs a se humilhar a seus pés, reconhecendo sua pouca fé e pedindo ao Mestre que a fortalecesse.
A cura do leproso e do servo do centurião (Mt 8) se deram após real e verdadeira humilhação e adoração. Foram pessoas que reconheceram sua inferioridade perante Deus e se entregaram a Jesus de coração verdadeiro.
A mulher do fluxo de sangue (Mt 9) teve de se expor, demonstrar sua fragilidade e sua vergonha perante a multidão. Os cegos precisaram clamar em alta voz para chamar a atenção de Jesus. O homem da mão mirrada (Mc 3) também precisou se expor e ir para o meio da sinagoga demonstrando a todos o seu defeito antes que o milagre pudesse se realizar. Jairo precisou ter paciência e seguir o Mestre por um bom tempo, deixando para trás o orgulho de ser um dos principais da sinagoga, enquanto via Jesus cuidando de outras pessoas no lugar de sua filha moribunda e permanecendo nessa mesma posição de humildade mesmo quando lhe informaram que sua filha estava morta, para depois poder vê-la ressuscitando. Jesus pediu que tirassem a pedra do sepulcro antes de realizar o seu milagre de ressuscitar Lázaro (Jo 11. 38-45).
Todos essas passagens nos ensinam que há coisas que precisamos fazer por nós mesmos a fim de que Jesus possa depois operar o milagre em nossas vidas. Há coisas que, como filhos, precisamos estar dispostos a fazer antes e para que o milagre ocorra. Mas infelizmente não é isso o que queremos!
Temos milhares de desculpas para não dividirmos nosso tempo com Deus.
Não queremos gastar tempo nem para conversar com Ele, orando e refletindo sobre Sua Palavra.
Não queremos nos humilhar aos Seus pés e, reconhecendo a Sua soberania e perfeição, aceitar os Seus conselhos e seguir as Suas ordens.
Reclamamos da vida e imploramos por misericórdia, mas não estamos dispostos a deixar que Jesus entre e mude em nós o que está errado.
Não nos permitimos humilhar aos seus pés, expondo as nossas fraquezas e as nossas imperfeições, para que Ele então possa tomar as rédeas da situação.
Não estamos dispostos sequer a fazer aquilo que está ao nosso alcance para que Ele possa fazer o que não está. Queremos apenas que Ele venha e efetue a limpeza da sujeira que fizemos, de preferência sem abrir a boca para fazer qualquer comentário.
Não queremos ser filhos, muito menos servos, pois não temos disposição de obedecer.
Portanto, deveríamos deixar de importunar Deus como os “nossos problemas”. Nós os criamos e alimentamos. São nossos!
Enquanto não reconhecemos o que somos e não estivermos dispostos a fazer a nossa parte, de fazer aquilo que está ao nosso alcance, devemos parar de pedir por milagres. Nós não os merecemos!

Marcelo Luís de Souza Ferreira

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