Tratava-se de um homem de oitenta anos de idade, dos
quais os últimos quarenta tinham sido consumidos na solitária
atividade de conduzir rebanhos por uma terra árida e improdutiva.
Ele, que já havia sido tratado como um príncipe durante sua
juventude e que no seu íntimo já tinha se imaginado grande e à
frente de magníficos projetos, agora se via frustrado, cansado,
incapaz de realizar qualquer coisa de importante na sua vida.
Perseguido por um erro cometido no passado, convicto de que já não
haveria futuro, entregue.
Esse homem era o Moisés que o livro de Êxodo nos
apresenta nos capítulos 2 e 3, mas poderia ser qualquer um de nós.
Poderia ser você!
Basta pensar nos sonhos e na disposição que já
tivemos na vida. Quanta coisa boa imaginávamos para o futuro!
Quantas realizações estariam por vir! E o que aconteceu?
O tempo foi passando, os planos se frustraram e aquela
pessoa cheia de ânimo e projetos deu lugar a uma pessoa ressentida,
que apenas contempla o passar dos dias, lutando para não ser
soterrado pela avalanche dos fatos da vida e aguardando o incerto
desfecho de tudo isso.
No entanto, num dia que tinha tudo para ser um dia igual
aos outros infelizes e modorrentos dias de sua vida, Moisés conduzia
seu rebanho quando viu uma sarça ardente e isso mudou a sua vida.
O que não nos atentamos quando lemos essa passagem é
que uma sarça ardente é algo comum no deserto. Algo que Moisés
talvez já tivesse visto muitas vezes ao longo dos quarenta anos de
trabalho como pastor de ovelhas mas até então não lhe havia
chamado a atenção. Algo que fazia parte do mundo daquele homem
vivido e desgastado pelo tempo.
E é essa passagem normalmente desconsiderada que nos
revela algo muito importante a respeito de Deus: a simplicidade do
seu agir.
Deus atraiu a curiosidade de Moisés para um pequeno
detalhe em algo que já fazia parte do cenário da vida daquele
homem.
É certo que o extraordinário aconteceu depois: cajado
que se transformou em cobra, pragas assolando somente o povo egípcio,
mares se abrindo, água brotando de rocha... Mas tudo começou com o
ordinário, com o usual, com o cotidiano. Tudo começou quando Moisés
olhou para o seu próprio mundo e se deu conta de que uma maravilha
estava acontecendo sob seus olhos. Afinal, como um arbusto poderia
pegar fogo e não se consumir?
Ao dar atenção para a ação de Deus em algo tão
simples e procurar se achegar àquilo foi que o próprio Deus se
revelou a Moisés. E não apenas se revelou como também levou Moisés
a se tornar aquilo que ele realmente era: alguém escolhido por Deus
para uma grande obra.
A partir desse momento, o vigor físico reacendeu.
Moisés foi vivificado, seus sonhos foram resgatados e uma nova
jornada na vida daquele homem se iniciou, afetando a vida de toda uma
nação.
É assim que Deus nos chama. É para isso que Ele nos
quer.
Esperamos aparições cinematográficas, com anjos e
trombetas, para nos rendermos a Ele. Mas Ele parece preferir
estratégias mais discretas de aproximação, para só depois de
estreitados os laços revelar aos poucos Sua glória, o Seu
esplendor.
Foi assim com Moisés, enquanto pastoreava ovelhas no
deserto. Foi assim com Gideão, quando malhava trigo num lagar para
se esconder dos adversários. É assim com você, chamado para ocupar
um lugar especial no plano de Deus.
Através de uma palavra levada por um conhecido. Por
meio de um folheto falando sobre Deus, que jogado ao vento cai em
suas mãos. Pelo convite de um amigo para uma visita à igreja. Um
toque, uma palavra, um louvor.
Deus vai usar o seu dia a dia para se aproximar de
você, para chamar sua atenção. Não espere algo tão distante da
sua vida.
Deus vai usar as pessoas com quem você se relaciona, as
dificuldades do seu trabalho, o problema no seu carro, a dívida, a
enfermidade, a perda de alguém, a gravidez, o casamento, o
nascimento do seu filho... tudo para que você volte seus olhos a Ele
e procure conhecê-lo para, então, fazer de você aquilo para o que
você foi planejado.
Mas como buscamos sempre as aparições espetaculares e
repletas de efeitos especiais normalmente perdemos a oportunidade de
conhecê-Lo dia após dia, como o povo de Israel que, esperando a
vinda de um Messias montado num cavalo alado e cheio de fúria contra
seus dominadores, perdeu a oportunidade de adorar e se render a um
Deus encarnado, que veio ao mundo da forma mais simples e e humana
possível, mas que mesmo assim realizou maravilhas e nos permitiu,
através de uma morte indigna, estar com Ele em sua glória eterna.
Olhe um pouco ao seu redor. Aquiete um pouco a sua alma.
Tente ouvir. É bem provável que você esteja há muito tempo
ignorando as tentativas que Deus tem feito para se aproximar de você.
Quem sabe essa mensagem não seja a sua sarça ardente?
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